Diário de um Magro

por  CARLOS ALBERTO

De Melide a Pedrouzo(Arca) - 32,4 km

A Santiago: 20 km


Segunda-feira, 08 de Outubro de 2001

Santiago de Compostela está ao alcance da mão. Curioso! Na partida da peregrinação, em Saint Jean Pied-de-Port, no dia 13 de setembro, meu aniversário, integrei com toda a naturalidade um grupo formado pelo brasileiro Ricardo, os italianos Mário e Bárbara e a austríaca Hedwig. Ricardo e eu formamos excelente parceria, com muita camaradagem, até Logroño, quando ele interrompeu o Caminho. Agora na chegada, com a mesma naturalidade, formei grupo a partir de Gonzar com o madrilenho Luiz, sua mulher berlinense, Gisela, e o espanhol Servando Márquez. Em meio a esses dois momentos, caminhei quase sempre sozinho, salvo pequenos trechos de eventual caminhada conjunta com alguém.

A partir de Gonzar, decidimos caminhar juntos, principalmente pelo apoio recíproco que se faz necessário para as saídas muito cedo dos refúgios. Hoje, por exemplo, saímos antes das 6h30,min do albergue de Melide. Caminhamos direto até Arzua, onde fizemos alto para desjejum e descanso. Tomamos muita chuva.

Esta etapa foi bastante fácil, se comparada com outras, apesar de bastante longa, 32,4 Km. Chegamos a Pedrouzo(Arca) às 15h, depois das 8(oito) horas de marcha, sob chuva intensa em determinados momentos. No entanto, em alguns momentos também havia sol neste cambiante e instável clima da Galícia. As mudanças de sol para chuva e de chuva para sol dão-se de uma hora para outra. Fui o único do grupo com calçado adequado. Todos os companheiros ficaram com os seus encharcados.

No refúgio de Pedrouzo, de boa qualidade, banho tomado e roupa lavada, fomos dormir um pouco para descansar até a hora da janta. Combinamos amanhã deixar o albergue por volta das 5h da manhã, para chegarmos à catedral de Santiago de Compostela com folga assistirmos à missa tradicional, tendo antes já providenciado o último carimbo da credencial, a compostelana e a instalação no albergue.

O madrilenho Luiz e sua mulher são dessas figuras excepcionais que se encontram no Caminho de Santiago: ele é pacifista militante, ambos vegetarianos obrigados a exceções no caminho; ele vive entre Madrid e Berlim, onde dá conferências a convite de ONGs sobre serviço militar e objeção de consciência; segundo me falara durante a janta em Melide, recusou-se a servir as forças armadas espanholas por objeção de consciência e só não foi preso e condenado por providencial lei de anistia; Gisela é uma mulher silenciosa e reflexiva, ao que parece com muita vida interior.

Em nenhum outro albergue vi tanta euforia e agitação quanto no de Pedrouzo. São grupos ruidosos de alemães, portugueses, espanhóis e, claro, brasileiros: é a alegria incontida causada pela perspectiva da chegada a Santiago de Compostela amanhã.

Palácio de Gaudi - Astorga - terra maragata

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