Micos & Dicas

por Reche

A subida dos Pirineus é uma parte difícil para a maioria dos peregrinos. Cometí uma série de erros que valem a pena serem relatados.

Iniciei a caminhada as 8:00 horas da manhã em Saint Jean a uma temperatura de zero graus. Daí deduzi que a temperatura nas partes mais altas dos Pirineus estivesse pelo menos a uns dez graus negativos. Inteligentemente agasalhei-me com uma camiseta, camisa, blusa de lã e uma jaqueta de couro!

Não esquecí das provisões; pão, um queijo de 1,5 kg, uvas passa, duas barras de chocolate e 1 litro de água.

Nos primeiros quilômetros, extasiado com a paisagem, parava a todo instante para fotografar e admirar tudo aquílo.

Após algumas horas, minha mochila, que sem as provisões pesava 14 kg, foi se tornando cada vez mais pesada. Até a pochete começou a incomodar! Sempre que trocava de mão o cajado, a água proveniente da transpiração jorrava através do punho da manga. Um pouco antes da Estatua da Virgem tirei minha jaqueta de couro e por lá a deixei. Hoje tavez esteja sendo usada por alguma ovelha desgarrada! Mais alguns quilômetros foi a vez do queijo retornar à França rodando trilha abaixo. Em seguida, minha água acabou.

Cansaço, ar seco e rarefeito, boca seca, transpirando muito e sem água! O que mais me atormentava éra a possibilidade de encontrar alguma fonte

de água e não poder beber devido a uma das recomendações de Madame Debrill; não beber água dos Pirineus em hipótese alguma!

Subida dos Pirineus

Acredito firmemente na existência de Anjos Protetores que habitam o caminho. Disso tive a prova inúmeras vezes durante a caminhada. Num trecho onde o trajeto se torna confuso devido a ausência de sinalização apareceu um grupo de jipeiros que estavam praticando raly nos Pirineus.

Deles recebí garrafas de água mineral suficiente para abastecer-me até Compostela!

Após ultrapassar a fronteira francêsa optei seguir descendo pela antiga calçada através da mata (hayedo) para atingir Roncesvalles. Acreditava que o trecho asfaltado até Ibañeta seria mais longo. Na descida abrupta por trilha entre as árvores a sinalização deixou de existir devido a noite que se aproximava. Já na escuridão, tive um dos momentos mais emocionantes de minha vida; ao olhar para cima através das copas das árvores, a visão celestial do cometa Halle-Bopp que justamente nessa noite atingia seu perigeu no hemisfério norte. A visão associada a situação tornou o sentimento indescritível.

Logo depois outra grande emoção. A alguns metros a minha frente um paredão de pedras, bastante escuro e ameaçador: MURALHAS DE RONCESVALLES !

PS.- Chegada a Roncesvalles as 22:00 horas, sem comer pão, queijo ou chocolate!

Se Santiago assim o permitir estarei novamente no Caminho no próximo mês de setembro.

Saudações Peregrinas

E tem mais:

E tem muito mais ainda...