De Hospital de Órbigo a Astorga - 16 km
A Santiago: 258 km
Segunda-feira, 01 de Outubro de 2001
Dormi muito bem em Hospital de Órbigo, porque não havia roncos. Aliás, havia pouca gente no refúgio, de modo que era o único na ala do dormitório em que fiquei. Comi uma maçã ao sair,
pensando em tomar café num dos dois pueblos próximos a Órbigo, pelos quais passaria. Não havia café em nenhum dos dois. O jeito foi colher maçã e pêra à beira do caminho, como deviam fazer o peregrinos medievais.
Na
saída, encontrei um grupo de alemães, moças e rapazes, que não eram peregrinos, mas aparentemente iriam a pé pela montanha até Astorga. Como tantas vezes fizera ao longo do caminho, mastigava e saboreava flor de funcho (aniz),
muito abundante em diversas regiões da Caminho, o que foi notado por um dos caminhantes alemães, que ficou curioso e pediu-me informação.
A subida da serra leonesa foi agradável, ficando definitivamente para trás as
"llanuras palentinas" e "mesetas" leonesas. Superada a serra depois de umas três horas de caminhada, apareceu Astorga, apresentada pelas torres de sua Catedral. A vista de Astorga lá no vale deu um ânimo muito grande. Caminhei
sem parar até Santibañez de Valdiglesias, onde cheguei por volta das 12h ao Bar Oásis, nome muito apropriado, e onde descansei, tomei vinho, água mineral, com pão, presunto, queijo e salamito. Ali também chegaram outros peregrinos
e o grupo alemão, além de um casal de brasileiro, do RJ, que havia conhecido poucos minutos antes Santibañez, na descida da montanha, Zé Maria e Solange.
Não fui para o albergue de Astorga, que é muito ruim, segundo
todos os comentários. Fiquei numa pensão bem simples ali por perto. Descansei, tomei banho e fui à luta. Astorga é muito bonita e tem passado histórico de tenaz resistência a dois cercos das tropas napoleônicas. Na região da
Maragateria, Napoleão Bonaparte não obteve sucesso e começou seu fracasso na Espanha. Há monumento alusivo no centro de Astorga, com os nomes dos heróis da resistência maragata.
A Catedral de Astorga e seu museu são
muito interessantes, bem assim o Palácio Gaudí. Os restaurantes anunciam muito o "Cosido maragato" e as "mantecadas". Pensei em jantar um "cosido", mas fiquei com receio de inovar a dieta e prejudicar a caminhada, de modo que
resolvi jantar o trivial, na companhia dos patrícios Zé Maria e Solange, que fazem o caminho pela segunda vez. Ele caminha com uma pequena bandeira branca, símbolo da paz, e distribui pequenas pedras semipreciosas para espanhóis
que sejam simpáticos e acolhedores.
Após a janta, tratei de ir dormir logo, para estar em boas condições amanhã, etapa até Rabanal del Camino, por onde pretendo passar e avançar na etapa seguinte, talvez até El Acebo.