Diário de um Magro

por  CARLOS ALBERTO

De Sarria a Gonzar - 30 km

A Santiago: 84 km


Sábado, 06 de Outubro de 2001

O albergue de Sarria é muito precário. O espaço para o peregrino na parte de baixo do beliche é muito exíguo, inclusive para um "pouca sombra".

De qualquer maneira, deu para dormir bem, mas minha disposição física não foi muito boa. Antes das 8h saí do albergue, escuro como sempre no horário de verão espanhol. Fui para a estrada com a esperança de tomar café em Barbadelo. O minúsculo vilarejo, final/começo de etapa pelo guia El Pais, estava com seu bar fechado. No pueblito de Rente, atendi à propaganda de um cartaz afixado num poste do caminho: "Carmen Lopes - Desayunos - Todo para el Peregrino". Saí da estrada e desloquei-me até o estabelecimento a uns 50 metros. Estava fechado. Dirigi-me aos fundos, onde uns dois ou três velhos lidavam numa estrebaria. Alguns cachorros meio festivos me deram mais atenção. Um dos velhos se dispôs a abrir a "Casa de Carmen" para servir um café, mas foi logo avisando que tinha pouco tempo, precisava continuar seu trabalho.

Abriu o "estabelecimento", instalou-me no refeitório e serviu um café morno, sempre resmungando que tinha pressa. Não podia servir bocadilho porque demorava muito, tinha pouco tempo, só serviria torradas, na verdade pão torrado. Também havia chegado ao local uma dupla de jovens alemães, rapaz e moça, e mesmo sem nos entendermos direito começamos a rir da situação.

Tomado o "lauto" café, toquei para a estrada e caminhei sem parar até Ferreiros, onde fiz alto para descansar e comer algo, que o café da Carmen Lopes e do velho resmungão não fora suficiente. Encontrei no bar o canadense Normand Baudin, lanchamos juntos, conversamos e tiramos foto para registro.

Houve muita chuva nesse trajeto, chuva típica da Galícia, entremeada com sol e períodos de temperatura baixa. Diz-se que esse clima galego se deve a que a Galícia recebe diretamente todos os influxos das variações meteorológicas e de temperatura do oceano.

Saindo de Ferreiros, segui direto para Portomarin, onde cheguei apenas para conhecer a famosa igreja transplantada. Descansei e tomei algo numa cafeteria e voltei para a estrada rumo a Gonzar, que tinha fixado como final de etapa, enfrentando subida forte.

Alcancei Gonzar moído de cansaço, sentindo forte dor muscular na coxa esquerda. Albergue simples, com serviço precário no único bar existente mantido pelo hospitaleiro. Só servem bocadilhos. Pedi dois, uma para comer ali, acompanhado de vinho e água mineral, e outro para a manha seguinte.

Santiago de Compostela se aproxima. Devo chegar na Terça-feira, dia 09, e para assistir à missa do peregrino no mesmo dia devo sair do albergue de Pedrouzo/Arca entre 5h e 6h.

Na Galícia, estou tomando toda a chuva que não tomei antes, cheirando e vendo bosta de vaca como nunca em minha vida. Se o Paulo Coelho, a Shirley McLane e outros artistas tiveram visões transcendentais, a mim tocaram somente visões de vacas e de bosta das próprias.

Pastoreio - Nájera

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