De O Cebreiro a Sarria - 39 km
A Santiago: 114 km
Sexta-feira, 05 de Outubro de 2001
De noite, esqueci a roupa no varal do refúgio e amanheceu completamente molhada. Choveu muito durante a noite e amanheceu chovendo. Tomei café no "Mesón" de O Cebreiro e saí na névoa
intensa.
Os peregrinos caminhando ao longo da estrada asfaltada pareciam fantasmas se deslocando na bruma densa. Apesar disso, a manhã foi ficando bonita à medida que as horas avançavam. Fiz vários registros fotográficos.
A saída para a estrada foi tarde, depois das 8h30min. A etapa seria até Triacastela, segundo sugestão do guia El Pais, mas para mim, como sempre, esta é uma questão em aberto. Na estrada, decido até onde vou caminhar. Como
estava disposto, senti que caminharia além de Triacastela.
A subida do Alto do Poio é curta, mas muito forte. Por volta das 12h30min, parei para desjejum no vilarejo Viduedo, onde serviram um queijo cremoso e um vinho
muito bons, com pão. Toquei em frente. Chovia a intervalos e a intervalos eu punha e retirava a capa de chuva. Numa dessas, perdi o guia. Como no caminho tudo pode acontecer, tinha quase certeza de que algum caminhante o encontraria
procuraria encontrar o dono. Assim, parei para descansar numa área de repouso antes de Triacastela, onde se encontravam alguns franceses. De fato, daí a pouco, chegava ali um jovem casal de ingleses que, ao verem os franceses
retomando o caminho, falaram "Just a moment please, someone lost his guide". Apressei-me em responder no meu inglês rudimentar "Ok ! I lost my guide", seguindo os agradecimentos que a ocasião impunha e os sorrisos satisfeitos
do casal de ingleses, que já haviam avistado antes em Viduedo, onde também pararam no mesmo bar, para descanso e lanche. Coisas do Caminho !
Parei na igreja de Triacastela, que fica junto ao cemitério. Já havia sol,
tratei de pendurar na mochila minhas roupas molhadas. Carimbei a credencial de peregrino e deixei Triacastela para trás, pelo bonito e inóspito caminho de San Xil. Parei algumas vezes para descansar, por breves minutos, inclusive
num vilarejo cheio de bostas de vaca, mas provido de contêineres para coleta do lixo humano, onde fiz lanche, que repartir com dois cachorros que vieram por ali.
Cheguei ao albergue de Sarria às 18h30min, com o que acabei
fazendo quase duas etapas neste dia. Nesse ritmo, devo chegar a Santiago de Compostela no dia 09.
Na igreja de Triacastela, recolhi um impresso com este poema, de autoria do pároco, Augusto Losada Lópes: "SIEMPRE HAY
TIEMPO ... NUNCA ES TARDE
Si uma mañana despiertas
con ganas de nada;
Si ni siquiera de alienta
abrir una sola ventana;
No dejes que tu alma se seque.
Recobra tu antigua esperanza.
Si una tarde
cualquiera
Recorres la estrecha vereda;
Si respiras profundo
Y no hueles lo que te rodea;
Detente un segundo y suspira.
Tu sangre recobra la vida.
Porque siempre hay tiempo para volver a nacer.
Siempre
hay tiempo para volver a vivir.
Siempre hay tiempo para volver a empezar
Lo que nunca pudiste terminar.
Si la luna te guía
Y no causa em ti la alegría,
ni recuerdos de amores,
nostalgias de días mejores.
Aprieta
la mano en tu pecho,
destruye los malos momentos.
Porque siempre hay tiempo ...
Porque siempre hay tiempo para volver a nacer.
Siempre hay tiempo para volver a vivir.
Siempre hay tiempo para volver a empezar
Lo
que nunca pudiste terminar."