3º. dia - 10/09/2000 (domingo) - PAMPLONA
Ontem não registrei nada. Não por não ter o que dizer, mas por falta de tempo, talvez.
Dia 08, ainda em Roncesvalles, assisti à missa, que deveria começar às 19 horas, mas iniciou às 20 h. . A falta de pontualidade parece
não ser privilégio brasileiro... É uma pequena igreja, estilo gótico, uma missa cantada, cujo final, especialmente, impressiona e emociona . As luzes apagam. Fica apenas uma tênue iluminação por detrás do altar, no alto, e,
ao som do órgão, os padres (2) lançam a benção do peregrino. Alguns peregrinos chegam às lágrimas.
Recolho-me à pousada, após jantar em uma mesa com um francês, uma quebequoise - que faz questão de se identificar como
tal - e uma espanhola . Todos estão no Caminho pela primeira vez. Trocamos informações, impressões e ansiedades. Tomo 2 Lexotan, vou dormir às 22 h. e 30 min. e acordo às 9 h. . Estou muito bem disposto. Tomo café e saiu às
10 h. 10 min. . O trecho inicial é um verdadeiro passeio em um bosque (como diz, apropriadamente, o guia do EL Pais). Muito verde. Dia maravilhoso. Logo sou alcançado por outro peregrino, um brasileiro chamado Márcio, engenheiro
carioca, que acelerou o passo para escapar, segundo disse, de um paulista maluco com quem vinha caminhando desde Saint-Jean. Caminhamos juntos um bom tempo. Parece um bom sujeito (50 anos), que diz estar fazendo o Caminho por
aquelas coisas que não sabe bem definir. Seguimos juntos até o início da subida do Alto do Erro. Ali ele fica e eu sigo. É uma subida bastante árdua. Lá em cima, cruzo com duas holandesas (fiquei sabendo depois), que estavam
sentadas sobre a grama, parecendo bastante cansadas. Alcanço logo três jovens franceses ( 2 moças e um rapaz), que pretendem seguir hoje até Larrasoaña. Converso um pouco com eles, que, de início, chegam a pensar (segundo afirmaram)
que sou francês. Um bom ânimo em minha auto-estima.
Às 16 h. 10 min. chego a ZUBIRI (após 6 h. e caminhada) . Albergue razoável. Cerca de 20 brasileiros de vários estados. Márcio chega 45 minutos depois e tem sorte de
ainda conseguir lugar, quando eu imaginava que havia ocupado o último espaço.
O grande número de brasileiros (há até um pai - Jorge - e uma filha - Carolina - de Erexim/RS) produz a previsível algazarra, em contraste
com o silêncio que os europeus desejam.
À noite (final de tarde), saímos - 14 brasileiros e a quebequoise, que se entrosou muito bem ao grupo, embora não entenda nada de português - para jantar. Foi bastante divertido,
parecendo que aquelas pessoas que nunca se haviam visto eram velhos amigos que não se encontravam há muito tempo.

Retornando ao albergue - seria minha primeira noite em um - tentei dormir, tomando um Lexotan, mas não tive êxito. Dei apenas leves cochiladas, nada reparadoras. Havia, no mínimo, 3 ou 4 roncos de tonalidades diferentes, em
um recinto onde dormiam (ou tentavam) 26 pessoas . Às 06 h. , ainda noite escura, começou a movimentação geral para retomar a estrada.
Saí às 07 h., junto com o Márcio. Noite fechada (é horário de verão na Espanha),
que começou a clarear por volta das 07 h. 30 min.
Com cerca de 01 hora de caminhada nos separamos, porque resolvi dar uma parada "técnica". Em dez minutos retomei a caminhada. Passando pelos campos próximos a Larrasoaña
deparei com o trio de jovens franceses que não haviam ficado em Zubiri. Estavam acordando naquele momento, pois tinham dormido ao relento, uma vez que o albergue de Larrasoaña estava fechado.
Segui adiante e logo alcancei
dois outros brasileiros, o Ricardo e um cearense (Luiz Carlos), que todos chamam de "Ceará", e que é engenheiro. Seguimos juntos, chegando a Pamplona às 13 horas . Felizmente fomos dos primeiros a chegar (já havia um casal
de franceses e outras 4 brasileiras - aliás, as mulheres são maioria no Caminho), pois o albergue aqui só tem 20 lugares.
Alojamo-nos, e, banho tomado, saímos para almoçar em um restaurante próximo. Trata-se de um antigo
restaurante (1888), de nome "LA IRUÑA" (que é a denominação de Pamplona em basco) . Um belíssimo prédio estilo "art nouveau", e a comida é bem razoável, assim como o vinho da casa, servido em jarra.
Telefono para Leninha.
Tudo OK.
No albergue, consigo dar uma cochilada. Após, saímos para dar uma volta nas cercanias. As pernas se ressentiram hoje. Amanhã, o dia será longo e começa cedo. Vamos até PUENTE LA REINA. O guia diz que são 23,5
km. . Devo, ainda, fazer um desvio para conhecer a igreja templária de EUNATE. Há um trecho difícil que é a subida do ALTO DEL PERDON.