23º. dia - 01/10 - VILLA FRANCA DEL BIERZO
Saí de PONFERRADA às 09 h e 15 min . Tempo sombrio. Chuviscos intermitentes. Desisti de colocar a capa de chuva a cada chuvisqueiro. Ocorre que hoje não fez frio, e, sendo a capa bastante quente, acaba ficando mais molhada
por dentro, em razão do suor, do que por fora, pela chuva. Nestas condições, só vale a pena colocá-la em caso de chuva forte, que não ocorreu.
A etapa é anunciada como fácil no Guia. Os espanhóis dizem que o trecho é
plano. No entanto, já mais próximo de VILLAFRANCA, há vários trechos de subida, inclusive com barro, o que torna o trecho um tanto cansativo, sobretudo tendo em conta o cansaço acumulado pela etapa de ontem.
Na passagem
por CACABELOS presenciei uma interessante comemoração local. Trata-se de um desfile em trajes típicos comemorativo a uma batalha ocorrida lá em 1808 contra as tropas napoleônicas, que, ao que parece, teriam, a final, sido derrotadas
ali, inclusive com a morte do general que as comandava.
Finalmente, cheguei em VILLAFRANCA às 14 horas.

A cidade é bem interessante, muito típica, mas parece que as pessoas desapareceram. Tive dificuldade em obter hospedagem. Afinal, consegui uma espécie de quarto de pensão, pertencente ao dono do restaurante onde almocei. Não é
oferecido café da manhã, nem há qualquer lugar aberto onde possa comprar algo para o desjejum (hoje é domingo). Combinei com o proprietário que iria jantar lá e que me forneceriam um "bocadillo" ou alguma outra coisa para comer
pela manhã, antes de sair para caminhar.
Amanhã é dia de enfrentar uma das etapas mais difíceis do Caminho : a subida até O CEBREIRO. Espero que o tempo melhore.
EM TEMPO : durante a jornada de hoje, conheci ANA,
uma espanhola de cerca de 40 anos, de pequena estatura, que caminhava sozinha e rapidamente. Alcancei-a pouco antes de CACABELOS. Caminhamos juntos cerca de 30 minutos. O suficiente para saber de sua interessante relação com
o Caminho. É casada e tem 4 filhos. É a quarta vez que faz o Caminho, sempre em parte dele, nunca no total, porque seu período de férias não permite. Da primeira vez realizou com toda a família. Diz que foi uma experiência
interessante, porque nunca haviam convivido tão intensamente. Da segunda vez, levou as duas filhas mais velhas. Caminhavam muito rápido, adiantavam-se, e ficava sempre preocupada com elas. Da terceira vez, caminhou apenas com
o marido (um sujeito de cerca de 2 metros). Os ritmos eram diferentes. Ele caminhava mais rápido, mas cansava logo. Finalmente, agora, fazia o Caminho sozinha e achava que era sua melhor experiência. Pela primeira vez sentia-se
livre. Era apenas ANA, e não a mãe de quatro filhos ou a esposa do fulano. Era uma experimentação de liberdade que para ela estava sendo preciosa.
Após essa conversa, nos separamos em CACABELOS, onde parei em um bar
para descansar e comer alguma coisa, enquanto ela prosseguiu.