De Lourdes a Santiago de Compostela

por  OSWALDO BUZZO

7ª Jornada – Insensatez etílica


Adentrei em Ruesta debaixo de uma garoa fina. No firmamento, nuvens escuras encobriam o céu e corriam levadas por um vento impetuoso que descia dos Pirineus e sua força era tanta que na entrada da vila, do lado esquerdo, um velho pinheiro torcia e rangia como se fosse um navio de madeira num mar agitado. O vento açoitava um pomar de macieiras próximo e o barulho parecia-me como ondas que se quebravam.

Era muito cedo ainda, todavia, para fugir do frio, acabei me refugiando por alguns instantes num bar local, pensando em tomar um café para me aquecer. O desconforto térmico que sentia era tão intenso que, inopinadamente, resolvi subverter minha arraigada e ferrenha convicção peregrina, qual seja, não ingerir bebida alcoólica na trilha, enquanto não chegasse ao meu destino final.

Então, ousadamente, pedi uma dose de Brandy Fundador, o endeusado conhaque espanhol. O dono do bar me olhou espantado, não sei se por não ser bebida para estrangeiro ou porque era de manhã – mas me serviu generosa dose, e ficou a observar-me, meio de lado, com o canto dos olhos.

Para desafiá-lo, virei o cálice de uma só vez, e quase expeli a alma pela boca. Tive de me segurar ao sair trocando as pernas, e fingindo não ver o sorriso irônico estampado no rosto do sarcástico “barman”.

E tem mais:

E tem muito mais ainda...