Pequena História de Santiago

por Walter Jorge

Os Primeiros Peregrinos


As peregrinações após sobreviver um longo período quase que inativa, viu florescer os seus caminhos com a presença dos seus peregrinos. A partir do séc. XX as mesmas tomaram um grande impulso que permanece até os nossos dias.

Nesse artigo abordaremos de uma forma sintética, quais foram os primeiros peregrinos com seu grau de importância, que saíram de seus lares e foram render suas homenagem ao Apóstolo Tiago na sua tumba apostólica.

As peregrinações à tumba do Apóstolo Santiago “o maior”, formam parte de um dos fenômenos espirituais de maior importância da história espiritual do Ocidente. Por outra parte, a peregrinação Jacobea chegou a aglutinar além de suas características especificas os elementos que configuram a imagem de um peregrino cristão.

Estatua de Felipe II da Espanha (1527-1598) existente nos Jardins de Sabatini em Madrid, esculpida em pedra branca por Felipe de Castro (1711-1775) entre os anos de (1751-1753)


O primeiro peregrino que temos notícias após a descoberta do túmulo de Santiago, foi o rei Afonso II, “o Casto”, rei das Asturias que peregrinou ao túmulo do Apóstolo a convite do bispo Teodomiro de Iria Flavia, partindo de Oviedo. 

Posteriormente outro peregrino célebre estrangeiro a visitar o túmulo, foi o Arcebispo de Le Puy-en-Vélay, Gotescalco, que no ano de 951 partindo da Aquitânia acompanhado de uma grande comitiva dirigiu-se a Santiago de Compostela a fim de prestar suas homenagens ao Apóstolo. Por volta do ano de 959, é registrada a presença de Hugo de Vermandois, arcebispo de Reims e Cesáreo, abade de Montserrat. Em 961 um nobre francês, Raimundo II marques de Gothia, ao efetuar a sua peregrinação foi assassinado, no entanto nenhum documento esclarece as circunstâncias. Por volta do ano 983, o túmulo do Apóstolo foi visitado pelo eremita Simeón da Armênia. Ainda no séc. X peregrinou a Compostela o conde Fernán González o primeiro abade do Monastério de San Pedro Cárdenas (Burgos).

Na idade média os peregrinos ingleses faziam o caminho atravessando diretamente por mar até La Coruña. Foi o caso de Matilde, filha do rei da Inglaterra, Henrique I, que chegou em 1125 depois de enviuvar do Imperador alemão Henrique V, estabelecendo assim rotas marítimas para a peregrinação. A Alemanha foi um dos países que maior número de peregrinos enviou na época medieval. Em 1434 chega ao porto de La Coruña, 63 embarcações com 3.000 peregrinos ingleses, operação essa que se repetiu em 1445.

Muitos séculos depois em 1668, o príncipe italiano Cosme de Médicis empreenderia uma das primeiras viagens de peregrinação “turística” documentada. Acompanhado de 40 pessoas, visitou Santiago de Compostela para depois continuar a sua viagem por mar seguindo para as ilhas Britânicas.

Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela – chamados de os reis Católicos


Nem sempre os governantes da Espanha deram muita importância a Santiago de Compostela efetuando peregrinações. No livro “Felipe da Espanha”, escrito pelo historiador e biografo Henry Kamen com referência a vida de Felipe II, apenas relata que, quando o rei Felipe II da Espanha (1527-1598), filho do Imperador Carlos V, dirigiu-se para a Inglaterra para casar-se com a rainha Maria Tudor, herdeira do trono pelo falecimento do rei Eduardo VI, saiu com a sua comitiva de Valladolid em 16 de maio e no domingo 24 de junho do ano de 1554, juntamente com os embaixadores ingleses, assistiram à missa na Catedral de Compostela.

Na tarde de 13 de julho embarca para a Inglaterra em La Coruña, com uma frota de setenta navios grandes e vários menores. O casamento foi realizado com todo o esplendor na Catedral de Winchester no dia 25 de julho, dia dedicado a São Tiago, padroeiro da Espanha. Nada mais relata durante o seu longo reinado.

A primeira peregrinação devidamente documentada foi a de Sigfrido I, Arcebispo de Maguncia que no ano de 1070, farto do mundo e dos deveres do seu cargo, empreendeu a peregrinação a Compostela. Em meados do século XII, os Condes de Barcelona dispunham de um serviço oficial de guias para acompanharem hóspedes ilustres que assim o solicitassem até a Catedral de Santiago. Em 1488 os Reis Católicos efetuaram a sua peregrinação fundando em Santiago um hospital que deu o seu nome.

Também existiam as peregrinações por delegação. Um documento do ano de 1312 detalha como o francês Yves Lebreton cumpriu os requisitos da peregrinação em nome da Condessa de Artois. Desde o século XV se inicia um novo tipo de peregrinação: a cavalo, apesar de em 1123 o padre Aymeric Picaud já o ter realizado quando escreveu a célebre obra denominada “Códice Calixtino”. Exemplo foi o cavaleiro Hainault de Werdrin, que anunciou que desafiaria todo o cavaleiro que se aproximasse mais de 20 léguas do seu caminho a Santiago.

Outros célebres o fizeram no século X como: O Cid Campeador; Luiz VII da França; Eduardo I da Inglaterra; Hugo IV, duque de Borgonha e João de Brienne (rei de Jerusalém) que se casaria com Berenguela, filha de Afonso X; a princesa Sueca Ingrid que em 1270 peregrinou a Santiago acompanhada de um numeroso grupo de donzelas nobres; Isabel de Portugal; São Francisco de Assis em 1213; o pintor flamengo Jan Van Eyck em 1430; São Domingos de Guzman em 1220, Raimundo Lulio, São Vicente de Ferrer e milhões de anônimos que sofrendo as inúmeras dificuldades do Caminho, chegaram a Compostela simplesmente para rezar e redimir-se de suas penas.

Outros como Guillermo X, Duque de Aquitânia em 1137 e o Conde Poitou vieram morrer diante da tumba do Apóstolo, como informa o romance popular que imortalizou a este nobre francês como o nome de “Don Gaiferos”.

Em 1982, o Papa João Paulo II peregrinou a Compostela, na oportunidade presídio na Catedral, uma reunião do Conselho da Europa. Retornou em agosto de 1989, convocando a juventude para a IV Jornada Mundial da Juventude, evento esse onde mais de meio milhão de jovens de todo o mundo acudindo ao chamado do Papa, inundou as instalações do albergue situado no Monte do Gozo nas proximidades de Santiago de Compostela.

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