Pequena História de Santiago

por Walter Jorge

O Retorno das Peregrinações


Encontrada as relíquias do Apóstolo e de seus dois discípulos Teodoro e Atanásio, reconstruída a nova Cripta da Catedral de Santiago de Compostela e colocada à veneração dos seus fieis, uma nova fase das peregrinações deu-se início.

A partir de 1891 a rede de caminhos que partindo da região da Escandinávia, dos países eslavos e do oriente, conduziam à Basílica de Apóstolo, santos, reis, cavalheiros, burgueses, artesãos e camponeses, com ou sem cortejos, a pé ou a cavalo, chegaram a Santiago, caminho de piedade e de cultura, pelos mais diversos itinerários que integram as Rotas Jacobeas, foram um elemento decisivo na formação do espírito europeu mediante o intercâmbio de formas de vida, pensamentos, línguas e técnicas, entretanto as peregrinações sofreram várias interrupções devido ao surgimento das diversas guerras que se abateram sobre o continente Europeu naquele período.

A segunda idade dourada da peregrinação a Santiago, teria que esperar os finais do século XX. Motivos religiosos, culturais, artísticos, turísticos, muitos distintos aos que moveram os peregrinos da época medieval, resgataram a Rota Jacobeia do ostracismo.

Entre 1946 e 1959, novas escavações realizadas no subsolo da Igreja, trouxeram a descoberta de uma necrópole, datada dos primórdios do culto a Santiago e também várias tumbas, que vão desde o séc. I até o séc. IX d.C., dentre outras, o sepulcro do bispo Teodomiro, do séc. IX. Mais tarde foram descobertos os restos da antiga necrópole do séc. I d.C., as sepulturas de Teodoro e Atanásio, discípulos de Tiago, gradualmente o interesse pela peregrinação foi se reativando.

Busto de Don Elías Valiña Sampedro, situado entre a Hospedaria e a Igreja no alto do Cebreiro


Em 1982, João Paulo II converteu-se no primeiro Papa da história a visitar Santiago, e em 1987, o Conselho da Europa ortogou ao Caminho de Santiago o titulo de “Primeiro Itinerário Cultural Europeu”, e mais tarde, no ano de 1993, a UNESCO reconhece como “Patrimônio Cultural da Humanidade”.

Em 1984 o padre Elías Valiño Sampedro, pároco do Cebreiro, grande incentivador da atual peregrinação, empreendeu uma série de trabalhos, organizando Congressos e efetuando a sinalização do Caminho de Santiago com flechas amarelas desde a França até Compostela. No trajeto pelo interior da Espanha, realizou vários trabalhos de limpeza, recuperação de trechos do caminho perdidos, sua numeração quilométrica, etc. Hoje, considera-se o seu trabalho de sinalização, como uma orientação segura dos trechos originais da Rota Jacobea. Por tudo isso se pode dizer sem margens de duvida, que D. Elias foi, contemporaneamente, um dos mais importantes conservadores e promotor do Caminho de Santiago como rota de peregrinação e turismo, junte-se a isso ao fato de o mesmo ter sido o idealizador e criador das Associações dos Amigos do Caminho de Compostela, atualmente espalhados por todo o mundo.

Com a sinalização do Caminho Francês, as peregrinações foram aumentando progressivamente ano após ano principalmente para os habitantes do Continente Europeu. Foram reabertos antigos albergues e construídos novos, um volume sempre crescente de Livros, Mapas e Guias foram editados, organizam-se Congressos e Seminários, os velhos caminhos já esquecidos pelo tempo, voltam a serem gradativamente palmilhados pelos peregrinos.

O Carismático Papa João Paulo II


Em 1982, o Papa João Paulo II peregrinou a Compostela presidindo na Catedral uma reunião do Conselho da Europa. Em 1988 o governo de Navarra passou a zelar oficialmente pelo Caminho proibindo o tráfego de veículos motorizados na rota histórica, e proibindo qualquer construção a menos de trinta metros do seu trajeto. Em 1989 o Papa retorna a Compostela e, fazendo um apelo à juventude, conseguiu reunir mais quinhentas mil pessoas no albergue situado no Monte do Gozo nos arredores da cidade, por ocasião da IV Jornada Mundial da Juventude.

Atualmente, à margem das motivações religiosas que lhe deram vida, o interesse pelo caminho concentra-se não só pelos seus aspectos artísticos e turísticos, como também pelo arquitetônico (chamado estilo peregrino), na importantíssima escultura romana (a sua evolução pode ser notada ao longo da rota até a sua chegada no Pórtico da Glória), na pintura (Panteón de Santo Isidoro de León) e, enfim, nos destacados atrativos turísticos, paisagens, gastronomia, cultura que oferece a milenar rota por onde passaram personagens notáveis.

Em 1985, 2.491 pessoas solicitaram a Compostela, seis anos depois em 1991, são 7.274 os que conseguiram. Em 1993, Ano Santo, a Junta da Galícia, pois em marcha um ambicioso plano promocional turístico da Comunidade usando o Caminho de Santiago como eixo. O resultado foi grande, mais de 100.000 pessoas conseguiram a Compostela, ou seja, mais de 918% em relação ao ano anterior, enquanto que são milhões os que chegam a Santiago por outros meios distintos aos tradicionais: a pé, a cavalo ou de bicicleta.

No Ano Santo de 1999, as cifras oficiais estimaram um fluxo de aproximadamente 10 milhões de visitantes, um grande mutirão foi lançado em todo o caminho, não só para a construção de novos albergues, como na restauração dos existentes, principalmente na Galicia aonde todos os albergues foram restaurados e pintados. Pelas informações oficiais, 154.613 pessoas solicitaram a Compostela, sendo que deste número, 2.544 foram de Ibero-America, nele está incluído o Brasil. Informa ainda o Arcebispado de Santiago que, em 1999, dos 101.920 peregrinos que receberam a Compostela nos meses de julho, agosto e setembro, foram atendidos por respectivamente 2.598, 5.813 e 1.624 peregrinos que cuidaram da sua distribuição.

O contingente de peregrinos brasileiros tem aumentado de maneira significativa, basta dizer que em 1998, segundo dados oficiais, os brasileiros estavam em 6º lugar, atrás apenas do espanhol, francês, alemão, italiano e belga, nessa ordem e em 1999 os Iberos-America (incluindo o Brasil), passaram para o 4º lugar, atrás apenas do espanhol, francês e alemão.

No primeiro semestre de 2008, já se contabilizava um total de 64.797 Compostela entregues, sendo que do total, 37.584 homens e 27.213 mulheres, sento que o contingente de brasileiro foi de 1.447.

No Brasil, país de origem católica, como não podia deixar de ser, passou a contar nos seus diversos estados com número sempre crescente de Associações sem fins lucrativo que passaram a difundir a referida peregrinação a Santiago de Compostela. Não podemos deixar de citar o nosso escritor Paulo Coelho, membro da Academia Brasileira de Letras que, com o seu livro intitulado “Diário de um Mago”, despertou o interesse dos brasileiros iniciando a difusão da referida peregrinação.

No próximo artigo abordaremos o tema: “Os Primeiros Peregrinos”.

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